domingo, 23 de setembro de 2012

Aborto


          
Um tema difícil de tocar, ainda mais quando se vive essa experiência, apesar de termos livre arbítrio, quando se trata da vida e da morte, vemos e sentimos na pele a impotência de querer fazer algo e não ter o poder. Sabemos que tudo já está escrito e o que tiver que ser será, mas há situações que como humanos desejamos mudar.
Então percebemos a grandeza do amor de Deus, a natureza nos acolhe sempre, mas nem sempre recebemos com a mesma intensidade. O corpo sente a transformação e muitas vezes recusa aceitar as perdas. Quanto ao aborto o assunto é amplo e cada um tem seu ponto de vista. Mas em meu ver afeta demais o psicológico, um aborto provocado ou espontâneo merece muita atenção por todas as partes envolvidas.
É fácil falar: não era para ser, daqui a pouco engravida de novo. E aquele abraço tão esperado não chega.
Tantos planos, a benção tão esperada, espontaneamente chega antes do tempo e não há nada a fazer, como é difícil ver seu sonho se esvaindo em sangue, lavando seu corpo e mente. O mundo parece cair sobre sua cabeça. Mesmo crendo em Deus e segurando nas mãos dele é uma realidade que você fecha os olhos para não ver.
A depressão te cerca por todos os lados e tem ser forte o bastante para superar a perda e ainda lutar contra este mal, que afinal se conseguir abrigo viverá um inferno.
Tudo na vida serve mesmo como aprendizado e quem aprender, por favor, ensine, hoje ainda vejo tanta gente que não tem consideração e respeito pela dor do outro.
Hoje posso falar do quanto dói e machuca sofrer um aborto, não é fim do mundo lógico, mas até recuperar do trauma leva um pouco de tempo, nunca vai esquecer, terá que aprender a conviver com a dor.
Uma das coisas que observei é que quando você sente o amor familiar por perto à superação é mais rápida e mais tranquila. E mesmo assim a luta com seu eu é difícil. Fiquei imaginando, quem não tem apoio sofre dobrado.
Se já pequei em minha profissão e na vida, vou me vigiar mais, porque a cada dia percebo o quanto a vida é maravilhosa e é como um cristal que às vezes num piscar de olhos se quebra.
O sangue, o feto escorreu com tanta rapidez, quando cheguei ao hospital o médico me examinou e já correram comigo para o centro cirúrgico, e as enfermeiras disseram não se assuste com tanta gente. Eu não estava assustada, quando escutei elas  falarem da minha pressão que estava boa apesar dos fatos, entendi que não era minha hora de partir.
Mas ao ter alta do hospital o pesadelo continua e em desespero mudo sofro, e o que mais incomoda é que apesar de compartilhar sua dor, ela não aceita divisão, é só sua, e só você tem que caminhar em busca da cicatrização, e você vê no olhar do seu companheiro a impotência e sente falta não de palavras, mas de um abraço caloroso que não chegou.










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