Recordando as lembranças, sinto ainda mais amor por aquela que sempre considerei como a uma filha, minha irmã caçula, a essência de uma infância tão longínqua, bonita e ao mesmo tempo cheia de tristezas. Enfrentamos uma época difícil, quando mamãe ficou muito tempo hospitalizada devido a um problema de saúde, que na época não compreendia o que era. Eu como a terceira das irmãs já possuía certa responsabilidade mesmo tendo pouca idade, um período em que a lei não era rigorosa ao atribuir funções aos filhos pequenos, porém sabemos que a influência da lei deveria ser para aquelas crianças maltratadas, abusadas, que corriam e ainda correm risco de vida diante de uma sociedade injusta e alienada, enfim... Era um tempo em que os pais encaminhavam seus filhos para a escola, sem precisar que o conselho tutelar viesse a interferir para que as crianças fossem para a escola mesmo sem vontade de estudar. Apesar de ver as crianças chorarem para lavar a louça, quando os pezinhos nem alcançavam a pia, acredito que a vivência naquela época havia mais pureza, respeito e o melhor de tudo: brincadeiras. - Ah! como brincávamos! diferente dos dias atuais, no qual os jovens tem tudo a seu dispor, mas não se contentam com nada, pois até para lavarem uma louça, causam o maior rebuliço, como se a cozinha fosse um campo de batalha.
Enquanto minhas irmãs garantiam
suas roupas e calçados, eu cuidava das minhas irmãs menores, nas idas e vindas
da minha mãe entre hospital e casa, se me lembro bem eu devia ter uns doze anos
quando brotou em mim o amor que até hoje chamamos de incondicional, o amor de
mãe. Talvez foi este amor que me amadureceu muito rápido, eu me comportava como
se nada mais fosse importante do que ter minha irmãzinha em meus braços, graças
a Deus nossa mãe melhorou e teve vida e saúde para nos criar e lutar por nós,
até hoje com oitenta e quatro anos.
Minha irmã, minha
filha, minha princesa, apesar de ter crescido, ainda é aquela criança que vive
em minhas lembranças, dormia em meus braços, sempre foi e é meu xodozinho, não
adianta negar o amor. Tenho uma família abençoada, vivemos o amor de irmãos,
sete mulheres e três homens, somos amigos, mas é claro que temos afinidades e
gostos muitos parecidos.
Minha filha de coração,
a distância me levou para longe, mas somos muito unidas, não foi gerada no meu ventre,
mas o sangue nos uniu de outra maneira, coisa de Deus, e de uma mãe que ensinou
os irmãos a se amarem como devem, respeitando o espaço do outro e ajudando se
for necessário.
Minha irmã, minha
filha, eu sempre a amei tanto, mas tanto, que a ensinava a me chamar de mãe, eu
entendia que não podia passar por cima do sofrimento da nossa mãe, então eu
dizia: -Meu amorzinho, você tem duas mães tá?. Minha criança não questionou
nada, apenas deixamos o amor fluir, e para não magoar minha mãe, eu falava que era
apenas brincadeira de casinha, o que também era verdade. Entretanto dentro do
meu coração, após ter tido meus filhos, ainda me sinto como se tivesse “gerado”
minha primogênita.
Minha família não é
rica financeiramente, mas com certeza fomos premiados no quesito chamado amor. O
amor conduz cada um de nós, cada um trabalha suas imperfeições para não
contrariar a rainha Mãe. Me declaro com frequência a essa irmã que amo tanto,
eu te amo meu anjo, no registro do meu coração, você é minha filha.
Minha irmã, Rozana de
Almeida dos Santos, minha filha, que a generosidade de Deus continue nos
cobrindo com a benção do amor incondicional.
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