terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Retardada feliz


Caro leitor, afirmo sempre que viver é bom demais e ser feliz é minha obrigação.
Contudo, ainda choro por seres que não conseguem chegar nesta máxima da vida. Atingi uma fase maravilhosa aos quarenta anos e libertei-me da cruz que pesava meus ombros: o medo terrível das más línguas, dos olhares maliciosos que corriam sobre meu corpo e meu ser, sempre buscando em mim um erro ou atitude que os covardes não tomariam nunca.
Sempre convivi com pessoas maduras, nunca desprezei seus conselhos e exemplos. Sempre dei valor no quesito experiência.
Caro leitor, o sábio de fato repassa o que aprende, eu ainda não sei tudo e acredito que ainda faltam respostas para muitas coisas. Mas quanto ao saber, diante de tantos relatos e exemplos vivos, decidi buscar a felicidade e descobri uma mina de ouro, e me banhei nas águas com o melhor tesouro.
Sem planos, despida de orgulho adormeci e acordei, pensei ser sonho e me belisquei. Tudo era real. Caminhando em delírio externando o estado de graça, incomodando os infelizes, ouço vozes fazendo da minha vida uma novela, e desenhando meu triste fim e prevendo meu futuro, ouvi uma boca maldita gritar: Ela é uma retardada, retardada!
É, meus caros, os retardados também são gente e muitas vezes mais humanos do que os bons de cabeça. Agem com autenticidade, sem fingimento, falam e reagem de acordo com o momento. Ao contrário dos considerados em juízo perfeito que, às vezes, jogam a perfeição no vaso e dão descarga e vomitam asneiras nos ambientes que se acham no direito de sentar sobre seus próprios erros e defeitos, com rosto coberto de máscaras saem por aí destilando o veneno, já que fizeram suas escolhas, caíram no abismo e não houve resgate, como almas penadas se deliciam em maldizer a vida alheia.
Não julguem um livro pela capa nem uma mulher pelo sorriso, dizeres antigos que se encaixam nos dias atuais. Enquanto perdem tempo cuidando do jardim alheio, o próprio abriga apenas insetos indesejáveis.
Eu sem flores não respiro, para veneno de cobras há muito tempo tenho antídoto. Às vezes sinto-me perdida no espaço, ainda abala minha estrutura quando carunchos tentam penetrar a qualquer custo meu paraíso.
Então, mergulhada em um desespero mudo, tenho fé e sinto que Deus me ama incondicionalmente, aí dou uma ‘banana’ para os invejosos e digo: Já sofri, venha o que vier, não sofro mais.
Lembro, então, de tantas vidas que se suicidaram por não ter tido a coragem de mudar sua rota; lembro-me também das moças que morriam virgens e solitárias com medo do sexo e da fama. E lembro-me ainda de muitas outras pessoas que escolheram a morte, de tamanho sofrimento que o preconceito causou.
Prefiro ser uma retardada feliz que ter sonhos e desejos sufocados. Ou, ainda, desistir sem ter lutado; uma retardada feliz que segue sempre tentando novos caminhos, mesmo sabendo que alguns, possivelmente, não trarão os resultados esperados.  

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